terça-feira, 16 de junho de 2009

Viagem à Coreia do Sul

Sou membro e pesquisador do Grupo de Estudos da Ásia-Pacífico (GEAP) da PUC/SP. Nele, estudamos política, economia e gestão dos países a seguir, assim como suas relações com o Brasil: China, Coréias, Japão e países do Sudeste Asiático. Para mais informações sobre o trabalho do GEAP-PUC/SP, acessem www.pucsp.br/geap .

Devido às atividades que realizo no GEAP-PUC/SP, em 2005 tive a oportunidade de viajar para a Coréia do Sul.

Logo ao retornar ao Brasil, escrevi o texto abaixo, onde falo da cultura coreana e o que nós brasileiros podemos aprender com os coreanos.

Boa leitura!

Abraços,

Dudu

Coréia: uma visão brasileira
No presente texto, faremos um relato e algumas reflexões sobre a cultura da Republica da Coréia (ou Coréia do Sul), tendo por base recente viagem de 14 dias a este país. Falaremos um pouco também sobre o que nós brasileiros podemos aprender com o povo coreano.

1. A Família Coreana

Ficamos em uma casa de família durante alguns dias. Na “nossa família”, o casal, um homem de 38 anos e uma mulher de 35, tinha duas crianças: uma menina de 6 anos e um garoto de 9 anos. O “nosso pai” é um pequeno empresário que trabalha de segunda a sábado, saindo de casa às sete horas da manhã e chegando às dez da noite, de segunda a sexta-feira, e no sábado trabalha das sete ao meio-dia ou uma hora da tarde. Tira apenas, uma vez por ano, 5 dias de férias. “Nossa mãe” é uma dona de casa. Aqui, observamos uma primeira característica dos coreanos (e do asiático de uma forma geral): são extremamente organizados, dedicados e disciplinados para o trabalho.

Conversávamos apenas com o “nosso pai”, pois “nossa mãe” e as crianças não falavam inglês. Ele nos contou que com a rápida modernização e o desenvolvimento econômico do país nas últimas quatro décadas tem diminuído o número de casamentos e que o número de membros do núcleo central[1] da família é cada vez menor. Hoje, o homem e a mulher coreanos constituem uma família tardiamente, porque é preciso desenvolver antes a carreira. Embora os serviços públicos no país sejam excelentes (principalmente, a educação), criar um filho custa caro. Inclusive, muitas jovens coreanas não pretendem se casar, focando e concentrando os seus esforços e atenções na sua carreira.

As famílias coreanas estão bastante influenciadas pela cultura ocidental. Religiosamente, dos 50.7% dos coreanos que professam uma fé religiosa, de acordo com uma pesquisa de 1995, 39% são protestantes e 13% católicos[2]. É comum ver pessoas fumando e bebendo. As pessoas se vestem como em qualquer grande cidade do ocidente: usam jeans, camiseta, terno, tênis, óculos escuros e etc. Na “nossa família”, “nosso pai” fumava, bebia, tomava café, não era religioso e todos se vestiam com jeans, camiseta, sobretudo, tênis. O interior de boa parte das residências é composto por muitos eletrodomésticos, mesas e camas com boa distância do chão como no Ocidente. Assim é a casa de “nossa família” coreana. O futebol é um esporte apreciado nacionalmente. Os coreanos são realmente fanáticos. Ao chegar a casa de família, encontramos o “nosso irmãozinho” jogando futebol.

Mas se por um lado há tal influência dos valores ocidentais, por outro os coreanos preservam várias tradições da sua cultura. A sua alimentação é totalmente tradicional, a base de sopas, cozidos, vegetais, arroz, peixes, carne de porco, frango, soja (tofu), com quase tudo extremamente apimentado. Entre as bebidas alcoólicas mais apreciadas estão o vinho e o Whisky de arroz. Nas festas familiares (casamentos, funerais e aniversários, por exemplo), todas as pessoas usam vestimentas tradicionais, como o hanbok, um equivalente ao kimono japonês. O “nosso pai” nos mostrou o álbum de fotos da família. Na festa de aniversário de sua filha, todos estavam vestidos em trajes tradicionais. Assim como no Japão, há a tradicional cerimônia do chá, em que muitas famílias praticam e as crianças a aprendem durante a sua educação. Os esportes tradicionais, como o Taekwondo, são largamente praticados e valorizados no país.

2. A TV, a universidade e os anúncios e propagandas nas ruas de Seul

Na televisão, na universidade e nas ruas de Seul, há também uma influência do Ocidente.
Assistimos a vários canais da TV coreana. Encontramos programas de auditório similares aos brasileiros “Domingo Legal”, “Raul Gil”, “Faustão” e “Silvio Santos”. Em um canal voltado ao público jovem, vimos a apresentação de um grupo de música coreano que é uma cópia dos norte-americanos “BackStreetBoys”. Em relação aos filmes, há uma forte presença do cinema americano. Em vários comercias de empresas coreanas na TV, vemos modelos ocidentais atuando.

Em andanças pelas ruas de Seul, vimos também diversos anúncios e propagandas protagonizados por pessoas ocidentais. O curioso foi quando passamos na frente de uma academia de ginástica e vimos um pequeno outdoor com a imagem de um modelo ocidental, um homem loiro que poderia ser um alemão, inglês ou americano, de camiseta regata, levantando uma barra com pesos.

Por fim, visitamos a Seoul National University, considerada a melhor universidade da Coréia. Chama atenção a semelhança com tradicionais universidades dos EUA, a exemplo de Harvard, Princeton e o MIT. As salas de aula são em estilo anfiteatro, com aquelas lousas que podem ser substituídas. Os alunos que nos receberam utilizavam uniforme com o brasão da universidade.

3. Harmonia entre os Valores Ocidentais e a Cultura Tradicional

Conforme relatamos acima, houve um processo de ocidentalização na Coréia do Sul. Porém, os valores ocidentais não desfiguraram as tradições coreanas que continuam vivas e fortemente presentes no dia-a-dia do povo coreano. A tradição convive de forma harmônica com os valores do Ocidente. Lembrando Oswald de Andrade com a Antropofagia, os coreanos “absorveram, mastigaram e digeriram” a cultura ocidental, adaptando-a a sua realidade.

4. A importância de se valorizar a Cultura

Para finalizarmos, o que mais nos impressionou e emocionou na Coréia foi ver o amor e o orgulho que os coreanos têm da sua cultura. Isto não é algo de hoje, em que o país é desenvolvido e rico, mas uma coisa desde sempre. Nos piores momentos de sofrimento e aflições da história coreana ─ guerras, dominação e humilhação estrangeiras ─ o povo coreano nunca deixou de amar a sua cultura e nunca perdeu a auto-estima.

A nossa visão é a de que as transformações econômicas dos últimos 40 anos, que fizeram da República da Coréia um país desenvolvido com alto padrão de qualidade de vida para seu povo, só foram possíveis na medida em que a paixão e o orgulho pela própria cultura forneceram o combustível essencial para a construção de um novo país. Acreditamos que nós brasileiros temos muito a aprender com os coreanos. Precisamos dar valor à nossa cultura e ao nosso povo e deixar de olhar sempre para baixo, achando que os outros povos são melhores do que nós. Só assim teremos ânimo e força para construirmos um país melhor. Quem não é apaixonado e não se orgulha das suas tradições e valores não possui auto-estima e fica sem alma. Cultura é a essência da vida.

[1] Por “núcleo central” entendemos pai, mãe e filhos, pois na Ásia, em geral, a organização familiar difere dos países do Ocidente, de formação cultural judaico-cristã. As famílias asiáticas são numerosas e funcionam como clãs, estando organizadas em uma extensa rede de relacionamentos.

[2] SERVIÇO Exterior de Informações sobre a Coréia. Informações sobre a Coréia. Seul: 2004, p.161.

3 comentários:

  1. Gostaria de poder visitar a Coreia do sul!
    Gostei de seu texto

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  2. Olá.

    Interessante sua pesquisa. No entanto, o final soa um tanto quanto ultranacionalista. Cultura e tradição vai muito mais do seu interesse pessoal, não vejo nenhuma ligação com autoestima. Não gosto de carnaval, de samba e nem da seleção brasileira, mas não me sinto menos brasileiro por isso. Gosto de muitas outras coisa, do nosso geito alegre de levar a vida, do povo simpático e gentil. Desenvolvimento está ligado a valorização da pessoa, individual e coletivamente falando. Nos falta o sentimento nacional e coletivo principalmente no ambiente politico, não roubar de seu irmão de pátria. Falta muito desses sentimentos na hora de votar também.

    Desenvolver-se trabalhando ou estudando mais de 12h por dia? Não há necessidade. Mesmo que seja mais de vagar, não precisa disso tudo.

    Adoro a Coréia do Sul, pratiquei taekwondo por 2 anos e estou tentando aprender coreano sozinho pela internet. Apesar de só ter amigos coreanos pela internet, já pude constatar como são gentis e amigáveis. Tenho até uma amiga que estou doido pra visitar, estou planejando para tornar possivel rs (mas é beem carinho, pelo menos 6 mil reais para passar uns 25 dias).

    Enfim, apenas um humilde comentário de um estudante.

    Até, Leo.

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  3. Olá! Gostei do seu post, admiro a Coreia do Sul e estou pesquisando o país, pretendo passar um ano lá, estudar a língua e cursar alguma coisa que seja relacionado ao meu curso de direito. meu marido faz engenharia mecânica, então pensei em irmos juntos. Preciso da sua opnião, referente ao curso dele, se seria bom para o aprendizado dele ir para a Coreia do Sul (já que é um país tecnologicamente avançado), também gostaria de saber quanto ao mercado de trabalho para brasileiros, estadia, alimentação e tudo o que você puder me dizer referente a sobrevivência lá. Obrigada
    Dhayanne Paim

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